Nos primeiros dias do ano assisti a um surto de novas inscrições no Twitter, o serviço de microblogging mais usado no mundo. Refiro-me a inscrições de portugueses - nos Estados Unidos a notícia já não é o surto, mas sim se o Twitter se tornará mainstream em 2009.
Também li e comentei posts cépticos sobre a evolução do Twitter, em particular o do João Pedro Pereira no Tecnopolis ( aqui ).
Mas porquê? O que é que o Twitter tem?
Há dias chegou-me o desafio de explicar o que é o Twitter num post no jugular - um dos blogs mais badalados da actualidade. Sem grandes preciosismos, listei algumas das razões para o interesse no serviço, ao mesmo tempo que explicam onde é que ele atrai as pessoas.
Fi-lo, muito apropriadamente, em frases de 140 caracteres, ou menos, para provar desde logo ser falaciosa uma das "críticas" que se costuma ler: a de que "140 caracteres não dão para nada!". É que cada post, ou mensagem, ou "pio", ou "tweet" no Twitter tem a limitação de um máximo de 140 caracteres. Essa limitação só é um obstáculo para quem o aceite. Na verdade, é ela que torna o Twitter tão valioso: obriga ao essencial, num mundo hiper-mega-ultra repleto de acessório.
Citando João Pinto e Castro , um dos mais recentes bloggers (bl-g- -x-st- e jugular) da blogosfera "histórica", ou central, a aderir ao Twitter: "É espantoso a conversa da treta que cabe em 140 caracteres" (59).
Republico aqui essa lista, revista e aumentada com uma secção com os perigos e os contras do uso do serviço.
Para que serve o Twitter?
Para que serve o telefone? Para milhentas coisas, não é? Vejam no Twitter o telefone no início de século. Não se enganarão. (124 caracteres)
O uso pelos portugueses tem mudado. Hoje, 35% usa-o via browser (isto é, escreve directamente). Só 19% do uso é envio de posts via feeds. (138)
Nem sempre foi assim. Há 3 meses o uso era maioritariamente (mais de 1/3) como 2º canal de divulgação via feed (com o Twitterfeed.com). (136)
Isto significa evolução. Os espanhóis, que usam + intensamente, + depressa e em maior número, tb têm diminuído como 2º canal. (126)
Lendo de outra forma: apesar da utilidade como 2º canal, o Twitter é cada vez mais olhado como o canal principal, o blog é o secundário. (137)
Fechem as bocas de surpresa E perguntem: porque é que metade da lista dos top 100 bloggers do Technorati tem intensa actividade ali? (136)
Respondo (em 140). 2 razões. 1ª testam importância de 1 tema antes de escrever, recolhem info e reacções. 2ª a curiosidade atrai leitores (138!!)
Reputação. Algumas "celebridades" do Twitter revelaram-se ali. Outras já existiam na blogosfera e cresceram as reputações no Twitter. (134)
Networking. Pageviews. Renovação dos leitores de um blog. Angariação de leitores brasileiros. (94)
É preciso algum cuidado mas consegue-se converter a actividade ali em leitores no blog. O Twitter é, hoje, a minha 3ª fonte de tráfego. (136)
Extraordinário manancial de informação. Embora com áreas sobrevalorizadas, sim: a web social, a tecnologia e a política americana são must. (140)
Ñ há melhor forma de seguir um acontecimento em tempo real. Entenda-se: + completa, com + pontos de vista. Links multimedia complementares. (140)
Extraordinária riqueza de links sobre qualquer coisa. Seguir as pessoas certas de um sector é a melhor maneira de saber TUDO sobre o sector (140)
É redutor escrever em 140 car? Há piores formatações! É o segredo. Simplificar. Avalio a importância de um assunto num olhar e clico ou não (140)
Conselhos? 1, apenas. Vão devagar. Da mesma forma que um blog não se faz numa semana, não se constrói nada no Twitter sem tempo. (129)
Ah, a menos que usem de forma passiva, isto é, explorando apenas o lado (soberbo, sem rival) de caudaloso rio de informação riquíssima (135)
Bastante informação aqui: http://is.gd/eEvP . Num só artigo? Este: http://tinyurl.com/ser-alguem-no-twitter (108)
Perigos e contras do Twitter
É altamente aditivo. Um paraíso para os news junkies. (54)
É desmoralizante para quem busca o sucesso rápido ou fácil: demora imenso tempo a construir uma rede de leitores (chamados followers). (136)
Estimula a procrastinação. Quase não vi pessoas incólumes. Mas a maioria reagiu rápido no controlo da doença. (110)
Nos primeiros dias não se passa nada, um problema para os impetuosos. O retorno nunca é imediato ou garantido. (111)
É frustrante para quem pretenda estabelecer ali uma actividade puramente comercial ou propagandística. (103)
Como a vantagem do Twitter varia quase de indivíduo para indivíduo,pode demorar que tempos até perceber onde está o valor. Eu demorei meses (140)
Apesar, ou por causa, da simplicidade, a curva de aprendizagem não é rápida. Não há botões nem menus com os "comandos". Vale a entre-ajuda (139)
Sem alguma experiência de utilização e muita dedicação, o Twitter não serve para a auto-promoção, ao contrário do que se pensa (133)
Os followers não são necessariamente friends. Podem, até, ser inimigos. Não é fácil adivinhar as intenções, evite expor-se (123)
Seguir muitas pessoas traz, por cortesia delas, muitos followers, mas um grande número de followers nem o ego compensa. (120)
Considerações pessoais
Há quem diga, carinhosamente, que eu sou um "adepto" e um "apaixonado" do Twitter. São simpáticas, as pessoas, mas abusam um pouco dos termos: não confundo a pertença ou a paixão com aprofundar conhecimentos mais ou menos activo e participado. Sei que os jornalistas não se devem envolver - mas nem a atitude social da classe está imune às evoluções (e involuções), nem estamos aqui a falar propriamente de envolvência num partido, numa empresa, numa organização, num clube (sou adepto de dois ou três, a começar pelo Sporting e passando pelo Manchester) ou mesmo na junta de freguesia local.
Aliás, o termo "envolvido" já é excessivo. Acontece simplesmente que acompanhei o Twitter desde muito cedo e com índices de curiosidade e atenção acima da média. Se isso me trouxe alguma "posição" enquanto "tuiteiro" (o que é largamente discutível, devo dizer), é uma marginalidade não pretendida.
Por outro lado, a tentativa de estabelecer páginas como a lista de "tuiteiros" de língua portuguesa, como fiz num wiki no meu endereço pessoal, tanto pode ser encarada como um sinal desse envolvimento, como - e eu encaro assim - uma pequena experiência do "jornalismo como um serviço". Este formato adicional, chamemos-lhe assim, do jornalismo está a emergir, ainda em casos isolados e as mais das vezes de iniciativa pessoal (como é o caso), mas os jornais não o enjeitarão a seu tempo. Alguns órgãos de Comunicação Social já o fazem, e de cabeça cito um exemplo recente, o da Al Jazeera no decurso da acção militar na Faixa de Gaza, proporcionando aos leitores um plataforma para a introdução de informações geo-referenciadas.
Abrir uma lista ad-hoc de portugueses e brasileiros com contas no Twitter não é notícia, mas é uma forma de principiar a organizar informação dispersa e caótica (Já agora, está aqui: http://tinyurl.com/jornalistas ).
Da mesma forma que algum jornalismo se preocupa com a cidadania e lhe dá guarida, também na rede algum ciberjornalismo abre espaço à cibercidadania.
O tempo veio, de resto, confirmar a minha aposta (ou perda de tempo, como alguns dirão): o Twitter é o caso mais sério na web social depois do Google, do YouTube e do Facebook.
Paulo Querido , jornalista ( Siga-me no Twitter )
E pronto podem seguir-me a mim também... O quê? Onde? No Twitter claro!